O vestido velho acusou mentiras. Mal
sabe ele que sofro de esquecimento. É sempre assim o encontro da razão e da
realidade, as duas se conhecem, são vizinhas e mentem muito acreditando que são
senhoras distintas de natureza nobre. Mal sabem que sua origem é das trevas e santas promessas vivem a sua
espera. Faço de conta que acredito na sua importância e que reconheço sua
integridade. Ouço os sussurros ao meu ouvido: insana e demente. As vozes pensam
que eu nasci longe da verdade, sempre me avaliam por sorte de várias promessas,
e se esquecem dessa luz que me acompanha,
que adormece a cada raiar do dia, e prefere permanecer oculta. Da loucura quero
distância e ventos sopram ao meu favor, a grade já foi cerrada, os passarinhos
já fugiram da tempestade só aguardo sua chegada, sei que é certo, me deixarão
partir, nunca mais seus sussurros hei de obedecer. A justiça virá a cavalo e
com sede, muita sede. Deram-me penas falantes, e nessas letras despedaçam
milhares de algemas. Ouço risos em tom de vitória e deixo tudo dentro
escorrendo entre essas alegrias passageiras, é como um rio de correnteza forte,
que me arrasta junto com os troncos e destroços depois da chuva. A força da
água corre no meu peito e meu olhar se dispersa no horizonte. Posso jurar que
quero uma cura, uma receita caseira, pode ser um chá, para que esse peito não
doa mais dividido em liquida força. Atravesso a ponte com a esperança de achar
minha cura do outro lado, naquele lugar onde
as imagens não são mais necessárias.
07 novembro 2015
26 outubro 2015
Ao meu retorno
(Joan Miró)
"Vi? Vejo: o tempo e o tempo, as duas faces. Tempos. Vejo e aflijo-me:não tenho meios para expressar. Entretanto, mesmo sabendo ser inútil, devo tentar - um sinal -, pois ver e não dizer é como se não visse. Um sinal."
Osman Lins
07 março 2013
01 março 2013
18 setembro 2012
passagem
É raro assim os peixes, as algas
é certo assim o dedo apontado para o mar,
que de perto parece fronteira de céu e terra
e a largo olhar se despedaça em sinais na areia.
03 janeiro 2012
15 novembro 2011
Espelho
Foto de Cassio Amaral
No lugar que permaneçoos significados e as palavras inexistem.
Somos mudos e irreconhecíveis
a imagem não tem mais importância.
As asas seladas agora repousam
em seu leito de morte.
27 setembro 2011
Futuro
Crivo o calcanhar na pedra sentindo a dor do corte
a casca da ferida cheira mal
são marcas da gaiola
ferro fundido na razão humana e insana
que os olhos já cansaram de apreciar.
25 agosto 2011
Livro Hierofania dos Dedos - Poeta Português Jorge Vicente
26.
não sobrou nenhuma oração
nunca sobra nenhuma oração
quando deus se esquece das
voisas da carne e desagua
dentro de mim.
é talvez o poema que faz isso:
que se enterra, que assalta,
que agride, mas o poema não
interessa, a virtude não existe
e o verso é apenas um homem
e a mulher apenas uma mulher.
o que existe é a água, a sede,
a fome e a necessidade de desaguar
sangue dentro da pele; o ridículo
do miar do gato, a treva, a noite,
a saliva gasta mas que subsiste
no toque da carne.
tudo o mais é ilusão:
as valas da pele na superfície
da cama.
não sobrou nenhuma oração
nunca sobra nenhuma oração
quando deus se esquece das
voisas da carne e desagua
dentro de mim.
é talvez o poema que faz isso:
que se enterra, que assalta,
que agride, mas o poema não
interessa, a virtude não existe
e o verso é apenas um homem
e a mulher apenas uma mulher.
o que existe é a água, a sede,
a fome e a necessidade de desaguar
sangue dentro da pele; o ridículo
do miar do gato, a treva, a noite,
a saliva gasta mas que subsiste
no toque da carne.
tudo o mais é ilusão:
as valas da pele na superfície
da cama.
03 agosto 2011
28 junho 2011
Metamorfose
Foto de Cássio Amaral
Recolho certos vermelhos
da janela a dentro
e esqueço a poeira do agora.
Emendo a raiz nos poros dos porcos,
limpo a cara, este rosto de lama.
Agradeço o verde crescendo na pele,
o bico aparando a boca,
as penas tomando espaços.
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