27 outubro 2009

Completo

Reencontro as meias.

Verdade!

Transmutação


morada não conhece espaços
luz habita reflete nos olhos
verte-se em líquido cristal
depois o vinho, depois o peixe

Moribundo

terra
gira o mundo arcaico
raia de espera, produto final
fabricação com validade vencida

somado

mau cheiro
segue o círculo de abutres

camafeus e suas formas
céus alicerces cortados
espelhos quebrados
curtidos
na palha de fumo

graça e horror nos rodeiam
de porta e de janela
teto de isopor
esgoto a correr

descalços

gritos do silêncio
mesa
fruta, carne
água, sede
mel de pálidas faces
escorrem doces nos rios
vermelho esmalte
veias de águas secas
seco o ar

cadáver andante dos asfaltos

21 outubro 2009

Clarice


Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

Clarice Lispector de seu livro " Um Sopro de Vida ".

Folhas



Sei da luz. A conheço bem. Ela vive a espera dos homens, calada.

07 outubro 2009

Rosário


O silêncio mascara a fé. Princípio sólido, fundamento divino. Faces marcadas em pérolas tingidas de azul. Azul sua cor, luz da manhã. Animais a procura do ninho.

Amanhã


Lucidez ancorada fora do porto. Socorro. Preciso dessa luz. Designio das estrelas? A fera com sangue vertendo de suas feridas. Tragam óleo e vinho! O pão colocarei no altar.